Uma análise dos restos mortais de Joseph Carey
Merrick, mais conhecido como o "Homem-Elefante", pode ajudar a desvendar
as causas do câncer, afirmam cientistas britânicos.
Nascido na Inglaterra em 1862, Merrick sofria de
uma forma severa de uma doença que provocava o crescimento excessivo de
seus ossos e tecidos.
O apelido "Homem Elefante" veio das deformidades físicas decorrentes de sua condição que, não raro, atraíam o olhar de curiosos na segunda metade do século 19 e o tornaram em uma celebridade na Grã-Bretanha vitoriana.
Antes de morrer, aos 27 anos, Merrick doou seu
corpo à ciência, mas, até hoje, pouco se sabe sobre as causas de sua
doença. Tentativas anteriores de extrair o seu DNA fracassaram uma vez
que seu esqueleto ainda estava sendo higienizado.
Agora, amparados por novas tecnologias,
cientistas da Universidade Queen Mary, em Londres, onde o esqueleto do
inglês está armazenado, acreditam que a rara condição do "Homem
Elefante" possa ajudá-los a entender como as células cancerígenas se
formam.
"Merrick sofria de uma doença que provocava o
crescimento excessivo de partes de seu corpo, daí a comparação com um
elefante", explica o professor Richard Trembath, coordenador do estudo.
"Mas outras partes de seu corpo apresentavam uma
aparência normal e isso revela muito sobre os fundamentos da formação
da célula, ou seja, como uma célula cresce e quanto ela para de
crescer", acrescenta.
A pesquisa começou faz pouco tempo, mas os cientistas já demonstram entusiasmo com a possibilidade das descobertas.
"Não acredito que o estudo levará à cura do
câncer, mas penso que a pesquisa ampliará o nosso conhecimento sobre a
má formação celular", prevê Trembath.
Do circo à corte
Joseph Merrick foi uma figura bastante conhecida
na Inglaterra vitoriana. Vítima de humilhações públicas e rejeitado
pela madrasta devido à sua aparência física, ele decidiu sair de casa
ainda adolescente.
Sem dinheiro, sobreviveu de pequenos bicos em
apresentações circenses, nas quais era anunciado como uma das atrações
de shows de aberrações.
Rapidamente, rumores sobre sua condição espalharam-se pelo Reino Unido e atraíram a atenção da alta sociedade vitoriana.
Alexandra da Dinamarca, futura rainha consorte,
interessou-se pelo caso, fazendo com que outros membros da Corte também
compartilhassem do mesmo interessante.
Devido à sua popularidade, Merrick chegou a se
tornar próximo da Rainha Vitória (1819-1901), trisavó da atual Rainha
Elizabeth 2ª do Reino Unido.
Por muito tempo, médicos acreditavam que o
inglês sofria de um tipo raro de elefantíase, mas pesquisas recentes
concluíram que Merrick teria sido portador da Síndrome de Proteus, cujas
causas ainda não são totalmente conhecidas.
A doença, que deriva do nome do deus grego capaz
de assumir formas monstruosas, consiste no crescimento exagerado e
patológico da pele.
Em 1980, a vida de Joseph Merrick foi tema do filme O Homem Elefante, dirigido por David Lynch e estrelado por Anthony Hopkins.
( Brenda Rezende )